terça-feira, 25 de outubro de 2016

Em doses homeopáticas...

Gosto de acreditar que a vida é feita de fases, de ciclos que se iniciam e terminam em determinado momento. Essas fases podem se sobrepor, se embolar, se dividir; acontecem quando mudamos de escola, de trabalho, entramos na faculdade, ou em algum curso, quando alguém morre, alguém nasce... Em 2014 eu iniciei um ciclo da minha vida, num momento que eu jamais imaginaria que aconteceria, pois foi meio aleatório. Estresse, muito trabalho, confusões da minha cabeça e alguns acontecimentos específicos no meu emocional me fizeram mergulhar em um momento complicado, quando perdi qualquer perspectiva do que poderia surgir dali pra frente. É engraçado como isso te atinge: em um dia você está bem, cuidando das suas coisas e sente um pequeno incômodo no peito, mas acha que é só cansaço. Vai passar... Você deve estar trabalhando demais. E aí você ignora e continua como se nada estivesse acontecendo. Chega um dia que esse aperto se torna maior e você passa a trabalhar mais, justamente para ignorá-lo. Não são as horas de sono, não é a quantidade de trabalho ou de coisas acontecendo na sua vida, descansar não fará essa sensação passar, então você faz de tudo para encobri-la. Até chegar o dia em que ela te atinge e você simplesmente não consegue sair da cama... Eu nunca fui de me deixar levar facilmente por enfermidades, mas quando essa fase me atingiu, resistir era a pior das dores. Eu me entendi com depressão na metade de 2014. Sair da cama era difícil, trabalhar não fazia sentido. Eu não estava triste, eu não estava feliz, eu aparentemente tinha perdido o controle de qualquer emoção consistente que eu achava ter. Eu chorava sem querer, eu comia, eu perdia a fome... Sorrir era automático, mas eu também não sabia porque. Foi nessa época que R5 surgiu pra mim. Eu digo surgiu porque eu já conhecia, mas por causa desse momento da minha vida eu passei a ouvi-los sempre. Quando eu sentia que eu ia me afundar naquele escuro confuso que eram minhas crises eu ouvia às músicas e via seus vídeos. Comecei a pesquisar sobre eles, conhecê-los melhor e me ocupar, eles me faziam bem e suas músicas me distraíam, alegravam, me davam alguma razão. Era novo e era muito estimulante.

Por conta deles eu conheci a Karen. Acabamos nos encontrando no twitter, por eu ter perguntado por alguém que iria na primeira turnê que eles fizeram no Brasil. No dia do show mesmo quase não nos falamos, mas depois que acabou começamos e conversar e acredito que não paramos até hoje. Descobri que a Karen passou e ainda passava por uma situação parecida, a sua maneira, mas ela entendia de alguma forma as coisas que eu sentia. Talvez até mais por estar nesse barco há mais tempo. Passou por momentos incrivelmente difíceis e pra mim existia identificação: eu a via como alguém que sentia o mesmo que eu, e que ao mesmo tempo não entendia tanto quanto eu. A gente passou a se ajudar e a tentar seguir caminhando juntas, sempre tínhamos uma a outra quando as crises aconteciam e por mais que não soubéssemos o que estávamos fazendo, nunca desistíamos uma da outra. E a R5 foi quem proporcionou isso. Sempre ouvindo suas músicas, sempre brincando sobre eles, procurando notícias e costurando nossas vidas ao som daqueles CDs, daqueles vídeos, daqueles irmãos (e do Ellington).

Eu entrei nesse caminho sem perceber e não vou sair, a gente aprende a perceber que o cuidado é todo dia, cada dia de uma vez. Alguns dias vão ser piores, outros melhores, mas o que conta é pensar em não desistir. E que de todos os remédios o melhor de todos é ter na sua vida pessoas que te encham de razões para seguir, e a música claro. Essa banda me deu muito mais do que uma coletânea de músicas que embalavam meus dias solitários, a R5 me deu a companhia da peça chave para que eu conseguisse passar por um momento muito complicado e chegar no dia de hoje. Aqui, viva e podendo me dizer incrivelmente feliz. Me deu momentos incríveis que eu uso pra valer todo e qualquer momento complicado. Me deu razão pra repeti-los.

Ouvi muito que ser fã, tiete, groupie (ou qualquer outro nome que você queira dar) era complicado. Que eu já era uma adulta e que eu teria coisas mais importantes pra me preocupar: sim, eu tenho. A vida não para, o mundo atropela a gente. O que essas pessoas não sabem é que se não fosse por todo esse carinho e amor que eles julgam infundado e infantil eu talvez nem estivesse aqui pra ser essa adulta que todos esperam.

A R5 (em especial, mas agradeço a todas as bandas e cantores de quem sou fã) me fizeram o que sou hoje e me fizeram querer sem mais. E me deram muito mais. E por isso, não há nada nesse mundo que dê conta da gratidão que eu tenho no meu coração – batendo, forte, e sempre em frente.

"I'm screaming -Doctor, doctor, bottle it up! I'm a believer, believe me, this love is a drug"
Doctor Doctor - R5

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Eu cacheada

Sabe porque eu parei de alisar o cabelo?

Não foi só pra mostrar o orgulho que eu tenho dos meus cachos.
Não foi só pra me livrar de uma imposição de imagem que entope os meios de comunicação e asfixia inconscientemente. 
Não foi só pra me entender enquanto pessoa e enquanto mulher, e enquanto mulher negra.
Não foi só pra valorizar parte das minhas "origens".
E nem foi só pra poder pegar chuva a vontade.

Também foi porque eu tenho uma prima.
Ela tem 8 anos agora, mas quando eu resolvi que passaria a maior parte dos dias sem chapinha, ela estava completando 6 e entrando numa fase onde ja tinha opiniões muito fortes. 
Ela tem os cachos mais lindos e sem esforço algum, parecem feitos a mão (como um gringo até questionou, há alguns muitos anos atrás), mas ela não sabia. Ela achava que o cabelo liso da amiguinha era bom, e é assim que o dela deveria ser pra ser bonito, liso (e de preferencia mais pro loiro, mas só liso ja servia). 

Por mais que todo mundo da casa falasse com ela que era linda e pontuasse milhares de fatos sobre isso, ela não entendia. E aí eu percebi que ela precisava VER isso. Porque é bastante hipócrita eu dizer que ela tem que ter orgulho dos cachos que tem quando eu estou alisando meu cabelo. Aquela do "faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço" é uma furada hein? 

Era preciso esse exemplo, essa imagem, essa representação. E ainda que fosse muito pouco comparado ao tanto de informação que ela recebe dizendo o contrario, eu também queria ser uma mostra de que ela podia ser linda sendo cacheada. Era o que eu podia fazer. 

Eu ainda aliso o cabelo as vezes, porque não é sobre como você usa o seu cabelo (você faz o que quiser, tem tanta coisa maravilhosa: trança, aplique, tintura, corte, e chapinha CLARO, chapinha também, tudo isso pra se fazer no cabelo, pra você ser p que quiser, do jeito que quiser, quando quiser. Sabe lá que eu adoraria ter dinheiro e menos preguiça pra trocar de cabelo sempre que desse na telha), é sobre você saber que é linda careca!!!! E que fique até careca pra perceber isso, você pode, se joga, isso não vai diminuir o quanto você é maravilhosa.

É pra que crianças como a Anninha entendam o cabelo com que nasceram e que o amem, porque ele é o que tá aí de verdade e nao tem química, nem extensão, nem cor, nem corte, não tem NADA que você coloque no cabelo que te satisfaça se você não se amar, assim, nua e crua.

P.s.: Anna, com 8 anos agora, ama turbantes. Roubou vários meus, inclusive, coisa que eu ja nao to aguentando! Joga o cabelo pro alto e amarra cinquenta metros de pano. Trança e deixa tudo cacheado só de um lado. Reparte de lado, no meio, joga tudo pra trás, deixa solto... As vezes solta uns muxoxos por tanta coisa que vê e ouve - É CLARO! O caminho é longo e complicado e a gente tem que ir desviando de tanta coisa, todo dia - mas a gente sempre tá aqui pra lembrar que enquanto tá todo mundo igualzinho no mundo, ela tem a oportunidade de ser ela mesma, e desse jeito quem mais ela quiser.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Tratado sobre péssimos namorados

Em 2011 eu tive um namorado.
Eu tinha 17 anos e era meu segundo namoro "em casa", daqueles que a gente apresenta pra família, leva pra festas de parente, assumindo aquela fachada toda que essa vida social nos impõe. 

Nos víamos quase sempre, na saída da escola, e caminhávamos até em casa. Não saíamos muito. Ficávamos em casa, assistindo filmes no sofá da sala. Eu não curtia muito festas, então recusávamos a maioria pra cozinhar em casa (ele, porque eu sempre fui uma negação). Íamos muito ao cinema. 

Quando ficávamos sozinhos, gostávamos de dormir juntos, assistir videos ou ouvir musica. Ele nunca me forçou a nenhum tipo de atividade sexual - e você pode estar chocado assim como eu, porém eu ja revirei minha memória (e meus diários da época) de todas as formas para saber se me enganei, porém não. Se ele estava puto, ele também não comentava os nãos que tomava. 

Durante um período do ano, até separamos nossos dias de encontro para estudar para o vestibular.

Por essas atitudes eu ouvia todo tipo de pergunta: "você nao cansa dele?", "ele nao cansa de você?", "vocês só podem estar de brincadeira! Ele quer perder tempo te ajudando a estudar?", "mas ele não está te traindo?", "mas ele não é gay?"

Eu terminei com ele porque eu sentia falta de algo. Porque eu estava "feliz demais". Esses dias eu entendi que eu me boicotei.

Não quero salva de palmas pra ele, não quero exalta-lo nem nada, não quero focar nesse assunto. Não quero vende-lo como o melhor namorado do mundo, o exemplo de pessoa. Pelo amor! Não é uma propaganda. Ele tinha/tem até hoje muito que desconstruir como homem, cis, hetero; e eu também com minhas imagens sobre esse homem! E é sobre isso que me interessa falar.

O primeiro relacionamento no eu tive algum tipo de voz real, onde havia algum dialogo, eu terminei. Um relacionamento com o mínimo de uma coisa que eu não tinha experimentado antes, chamada respeito, eu terminei. O relacionamento com o qual, eu cresci claro, e também tinha a oportunidade de crescer ainda mais, porque entendi pela primeira vez o lugar do eu, da minha individualidade, dos meus desejos que merecem ser ouvidos, respeitados. A primeira vez que eu tive uma brecha de ar, eu cortei. Porque eu tive medo. Medo de ter respeito. Medo de ter direito. Medo da voz que eu tinha.

A insegurança, alguma coisa só podia estar errada. Eu não queria alguém que me ouvisse e respondesse. 1. Porque um homem nunca respeitaria meu espaço antes do dele, nem por um segundo, a nao ser que estivesse mentindo; 2. Porque eu não aceitava que eu podia ter esse espaço.

Que moleque frouxo. A gente mal briga. Ele deve ta fazendo algo pelas minhas costas. Ele não deveria me pedir mais? Me exigir mais? Eu não to sendo uma namorada ruim porque não quero? E porque ele não quer também? Ele não pode, ele é homem, ele tem que querer. Como pode? 

Eu projetei inúmeras coisas nele, mas principalmente eu projetei inúmeras coisas em mim mesma. Eu queria um garoto que perguntasse: "mas vamos só tentar?" Eu queria um garoto que me largasse no meio dos amigos dele pra me mostrar como prêmio enquanto tomava uma cerveja. Eu queria um garoto que não curtisse frequentar minha casa porque meus pais ficam muito em cima. Que me convidasse pra casa dele pra fugir dessa vigilancia e que mais uma vez me pedisse: "é rapidinho, eu faço devagarinho". E aí eu ia cedendo a beber, a sorrir, a sair, a trepar, a fazer tudo o que eu não queria, mas sendo a namorada dele. E brigando de vez em quando. Eu podendo falar o quanto o odeio, e como isso foi um erro, ele eventualmente me segurando um tanto mais forte - mas depois jurando que isso nunca mais se repetiria. Eu preferia isso a um namorado que tinha o mínimo de vontade de dialogar, que via a necessidade de respeitava meu espaço, que pelo menos não se metia em assuntos que ele não tinha noção, que aceitava eu achar que meu futuro acadêmico precisava de atenção extra, que meu trabalho era importante, e que isso nao tinha nada a ver com eu gostar mais ou menos dele. Porque isso não é um homem, é uma mentira!

Eu vejo meninas assim até hoje. Em relacionamentos como o primeiro só porque também tão impregnadas com um molde de machão. Isso é que é a verdade, A NATUREZA DO HOMEM, se for de outro jeito, é truque.

Não é! A desconstrução é necessária, é possível! E quando você vir uma brecha pra isso, não dê um passo pra trás. Você merece no mínimo, tudo! 

Esse foi o primeiro dos meus passos em falso na longa caminhada que ainda tenho que dar. Num momento em que podia ter dado um passinho a frente, dei dois pra trás - não por terminar com ele, mas por terminar comigo mesma. Abandonar uma jovem mulher que podia descobrir tanto mais de si mesma pra se agarrar a uma menina que era imprensada e pulsava nela a reprodução de um ambiente machista.

R., eu sei de todos os seus defeitos nesse sentido. Todo homem acaba reproduzindo machismo, porque é foda né? E sempre vai se pegar fazendo umas merdas, pra lá e pra cá. Não quero te enaltecer, eu quero pontuar que fui ignorante reforçando uma parada que eu tinha inúmeras cartas na manga pra começar a quebrar.

Espero que você continue assim e que encontre uma mina muito da linda que vai pegar esse mote que eu deixei passar e vai te ajudar nessa sua caminhada, e ela vai acabar ajudando a ela mesma também, o que é super importante.

E pra calar a boca, principalmente dos machinhos de plantão, que colocaram sementes de insegurança na minha cabeça: não que tenha muito mérito diante de todo o quadro horroroso que eu vejo pelo mundo, mas desses meus casos e acasos que me fazem o que sou, você foi o (menos-pior? haha) melhor.


Mas te orienta! Estamos de olho... Você sabe de uma coisa muito importante: o silêncio deve ser usado e daqui pra frente o filtro só aumenta. Seu preconceito, não passará!

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Seu negro é lindo?

Eu tenho 21 anos agora. Hoje eu estou na faculdade.

Quando eu tinha uns 8, 9 anos, na turminha da escola, um grupo de amigos meus começou a discriminar uma menina porque, ao que parecia, a mãe dela tinha "raspado a cabeça pra santo". Tinham medo de ficar perto dela e pelas suas costas a chamavam de macumbeira, e riam com piadas - que hoje sei - que eram de extrema intolerância.

Quando pequena nunca me foi apresentada a ideia de colocar como errado algum tipo de crença, muito pelo contrário: minha família sempre foi bem misturada nesse sentido (católicos, kardecistas, umbandistas, evangélicos) e eu sempre cresci ouvindo ligações entre essas crenças, eu conhecia afinidades e discordâncias, mas nunca me disseram o que era errado. Eu sabia que todas falavam de amor e que amor era o que regia o universo, e que todo ato que não fosse de amor a mim e amor ao próximo era reprovável, e isso era algo que todas elas tinham em comum. Ainda que, apesar de tudo, eu sempre tenha tendido a doutrina espírita, por razões que não importam nesse texto.

Bem, quando meus amiguinhos começavam a falar dela, eu sempre procurava ficar calada, mas ainda assim o incomodo não seria possível de ser retirado. Eu também era assim, e ainda que não praticasse efetivamente, eu acreditava nas coisas das quais aqueles meus amigos estavam rindo e caçoando. Eu era aquilo. Eu também era riso. Eles riam de mim? Eu não dizia. Eu nunca disse. Eu nunca neguei, era trair a mim mesma, mas eu também nunca me posicionei como alguém que tinha qualquer afinidade com aquelas crenças, o que é um erro de dimensão igual. Eles falavam de Receber Santos, como uma ação horrorosa, e que ela podia fazer mal a qualquer um que se aproximasse dela, e ainda que eu acreditasse que não era assim, eu não fiz nada. Eu me calava e deixava que falassem. Eu tinha meus 9 anos.

Eu ainda vivo rodeada por amigos de crenças diversas - e de uma gama muito maior do que naquela época eu achava que existia. Hoje eu nao tenho nem um pouco de medo de me posicionar quanto a esses assuntos na frente deles, é claro! Além de estar muito mais esclarecida em muitas coisas e me reconhecendo muito melhor enquanto pessoa do que antes, a grande maioria desses amigos é espírita, umbandista e candomblecista. Um numero grande deles encontrou esse caminho com maior clareza depois que entrou para a universidade. 

Eu vejo muita gente orgulhosa e se mostrando ativa dentro dessas religiões, principalmente as de matiz africana, e isso é lindo! Precisamos disso! É muito bom quando a gente se encontra nesse campo, e principalmente, é maravilhoso não ter receio de gritar e bater mesmo no peito, por ser parte disso. Espalhar axé dessa forma, é maravilhoso!

Eu só queria muito lembrar que dentro dessa bolha de magia que é a aceitação e descoberta de muita coisa que a própria faculdade, e suas conexões dentro dela, suscita, ainda nao é assim que o mundo vê. Ainda é preciso lutar, ainda é preciso dar a cara a tapa, e essa cara não é tao simples de ser dada. O negro ainda nao é respeitado, o negro ainda é segregado, o negro ainda não é bem visto. E quando é bem visto, é visto demais, como um produto, uma categoria de venda. O turbante, o funk, a macumba, é lindo pra fashion week, pra baladinha, pra trabalho universitário... Mas não é bonito no cotidiano. Na rua. Na casa da família brasileira. 

E que essa de curtir e espalhar pra todo mundo que negro é lindo É SIM NECESSÁRIO mas não leva só na festa não, o papo aqui é sério! E que apropriar-se não é seu ato de caridade, é uma titica de nada nesse tanto de merda. 

Que enquanto você usa seu turbante na sala de aula, tem mina alisando o cabelo porque nunca beijou moleque nenhum, porque não parece com a Taylor Swift.
Que enquanto você ouve seu funk na festinha de sábado a noite, tem garoto de onze anos que deu sorte na vida, e tá ganhando dinheiro cantando sobre estourar o cabaço da gostosa do baile.
Que enquanto você vai pra sua gira, tem uma menina de 9 anos quieta porque os amiguinhos tão caçoando das crenças dela.

Eles seguem a vida assim.
Eles se entendem assim.
É certo pra eles, é ok. 
Eles não tão tristes, eles não tem esse sentimento de revolta que você pode ter quando os vê: eles não tem nem a chance disso.

Eu nao tô dizendo para não criticar, pelo amor, vamos problematizar, sim! Mas ANTES de pegar seu negro como projeto de estudo, antes de criticar uma escova progressiva, o sexo nas letras de funk, a amiga que se diz parda, moreninha... Aquele que esconde a guia, ou aquele que ri junto com o chefe branco quando ele BRINCA com um "nao vai me roubar nada hein, negão!"... 

Pensa que pode tá fácil pra você apontar tudo isso do seu lugar de privilégio. Mas pra eles não tá não, não tá nada fácil!

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Previsões pro segundo semestre

Eu tô querendo distância. Eu tô cansada de ser quem eu não sou, porque é a verdade: eu não sou nada do que eu sou com vocês. Eu sou mil vezes mais forte, mil vezes mais esperta, mil vezes mais centrada, mil vezes mais tanta coisa que vocês prezam e prezam há anos! MAS EU NÃO SOU ASSIM! Vocês amam uma Beatriz que é inteligente apesar de não ser soberba, que é corajosa ainda com seus limites, que dá a vez pro outro falar, que tá sempre pra ouvir - porque ela gosta de ouvir mesmo - que não se atrasa e que tá disposta a fazer tudo pelos outros E ESSA BEATRIZ NÃO SOU EU. Não completamente, ela é uma mentira e eu sei que vocês não são capazes de lidar com a outra Beatriz por que... Não. Ela não pertence a vocês. Não agora. Não desse jeito que ela quer se mostrar. A Beatriz de verdade gosta de ser melhor que vocês, gosta de dar ordens, porque sim, ela tem que ter prazer pelas coisas que ela sabe! A verdadeira Beatriz não quer chegar cedo, quer dormir quase sempre. Ela não tem limites, mas não tem muito mais do que eu sei que vocês aprovariam. Ela é doida, ela não presta atenção nas datas, ela xinga o mundo, ela chora MUITO, ela quer matar todos vocês... E vocês não aguentam pessoas assim, porque vocês só são assim nas horas vagas (porque todo mundo é assim, é esse duplo e deixa soltar em alguns momentos), mas a Beatriz é assim em tempo integral!

Vocês não tão prontos pra Beatriz. Eu não tô pronta pra ela também. Não tava. Até algum tempo atrás. A Beatriz me comeu e eu deixei, porque ela sou eu. E nesses dias eu percebi que eu só ficava mal porque ela só era eu pra mim. O mundo não sabia que ela era eu, e ela sou eu de uma forma tão grande, que não tem como ela viver num armário de aparência.

A Beatriz não tá nem aí pra dizer que não gosta de você. Pra dizer que respeita a sua ideia, mas na vida dela vai tá guardada numa gaveta porque ela não quer ouvir. Ela AGORA não pode tá aí pra quem ou o quê ela tá afetando com as decisões dela porque em 7 anos que ela já tá formada e assentada, ela tá sendo escondida. Ela nunca tomou decisões por ela, ela sempre fez escolhas que, é claro, a deixavam feliz, mas por tabela; EU QUERO SER FELIZ DIRETAMENTE. Sem poréns, sem vírgulas. A Beatriz merece ser feliz sem MAS. E ela nunca é. Ela é feliz porque alguém é, ela é feliz porque algo não deu errado, mas as vezes ela só quer que dê, e as vezes ela precisa ver o mundo desmoronar porque a Beatriz não se importa com o caos. São nesses momentos que ela mais se vê livre, que ela cria, que ela SE CRIA, que ela se move e se transforma e ela não aguenta mais gente abraçando ela e dizendo que vai ficar tudo bem, que não é esse carinho que ela quer, que ela não quer mentiras. Ela não quer amor demais, ela não quer só compreensão, ELA QUER A VERDADE. Ela quer a mãe dela dizendo que ela é idiota e que ela é egoísta, porque ela é. Ela não quer um amigo que dá um olhar de compaixão e pronto, acha que isso é alguma coisa boa. Compaixão por ela mesma não leva ninguém a lugar nenhum.

A Bia é amarga, é apaixonada, é teimosa, é cabeça-dura; é responsável sim, mas é aos extremos, é tanto que no fim das coisas ela só não é; ela é preguiçosa, ela é carinhosa, ela quer falar sem fazerem ela calar; ela quer ser ouvida, mas as vezes ela quer que esqueçam dela; ela talvez só queira ficar na casa dos pais pra sempre, ou quem sabe voar pra longe de tudo que ela conhece; ela é isso tudo, ela é confusa, ela nunca vai ser nada estável; e eu acho que vocês não tão prontos pra isso. Se é que um dia estarão e se for caso, já é um pontapé pra uma mudança radical.

Vocês amam uma Bia que foi criada, que não existe. Uma mulher que a minha melhor personagem, eu percebi isso. Mas desde o início essa sempre foi a minha pergunta: até que ponto eu posso viver com esse sorriso? Que não é meu.

Ninguém até hoje entendeu essa Bia. Muito pelo contrário, quando essa Bia se manifesta ela é julgada, ela é estranhada, eles dizem "o que há com você?". Minha melhor amiga não sabe lidar com ela. Um pessoal novo quase a conheceu e disseram que vão aceitá-la, mas ela ainda não sabe se tá pronta pra eles. Ninguém nunca a viu de verdade. Quer dizer, ninguém menos uma pessoa. Alguém que aguardava sentadx os meus surtos porque sabia que eu ia voltar, porque sabia que aqueles surtos eram parte de quem eu era, alguém que se propôs a isso. E a Bia tava pronta. Por causa dessa pessoa a Bia tá pronta agora. E por 10 anos vendo da fresta da porta, ela sabe que, pra lidar com ela e amá-la, quem não tá pronto são vocês.


Ps: Não é ruim. Não é julgar. Não é juízo de valor algum, eu to dando fatos que são verdades pra mim, baseado em pesquisas de uma vida (curta, mas uma vida de qualquer forma). Não é eterno, eu espero que não, e essa Bia não se impede de amar gente que não a ame, mas ela tem um jeito todo seu de amar. Dói pra ela, mas ela sabe lidar com isso, diferente dessa Bia aqui que tá acoplada a satisfação dos outros. Essa Bia de verdade só sente falta de quem entende ela. E olha... Essa falta dói mais do que todas as faltas que a outra Bia sentia juntas.

domingo, 4 de maio de 2014

Angústia

E seu eu olho e ele não me olha,
Não sei bem se isso convém...
Descobrir se é bola, ou fora.
Se é pra ir ou não, além.

Essa falta de certeza,
Que a paixão, no início, tem.
Ora seduz, ora angustia,
Confunde medo com desdém.

A vontade atiça e machuca.
Sem ter-te. Perto. Ter sem.
E eu me declaro, só no pensamento...
Vê se fica esperto, meu bem.

Fani Castelino Belluz

(Fazendo meu filme, volume 1 - Paula Pimenta)

sábado, 22 de março de 2014

Verso Avulso

Foi não cabendo em lugar algum que eu achei um lugar comigo mesma.